“Prata da Casa”, Lia Gonçalves no Espaço Oficina
Desde há muito tempo que o corpo é um “museu” de experiências, de criações e recriações. O trabalho de Lia Gonçalves pretende pensar a forma como o corpo se relaciona com o quotidiano. Uma jóia, sendo um objecto de ornamento, é também uma intenção autoral e possível conceptualização de formas e conceitos que assentam na forma como “cobrimos” o nosso eu. Assim, o desenvolvimento do seu trabalho passa por explorar conceptualmente elementos do quotidiano, aproveitando, para tal, as potencialidades da prata enquanto matéria principal. Em conjugação com outros materiais, a sua maleabilidade, luminosidade e capacidade de oxidação permitem criar diferentes conjuntos de peças. Do complemento nasce o autor, da necessidade formal e conceptual de reinventar os elementos de diálogo com o outro e com o mundo. A concretização da Jóia vai além do artífice, além das narrativas históricas: é a construção da viagem pessoal e mental do autor que contamina o quotidiano com o corpo.
\ Lia Gonçalves, natural de Viana do Castelo, é formada em Joalharia pela ESAD/ Matosinhos, onde, em 2010, concluiu também o mestrado em Design de Produto. Embora no seu percurso tenha começado por contactar com o mercado tradicional e, particularmente, com a indústria da filigrana, o seu trabalho baseia-se numa abordagem contemporânea à joalharia de autor, explorando linguagens que traduzem a preferência por uma estética minimalista e, ao mesmo tempo, a preocupação com questões ligadas à funcionalidade da peça. A partir de uma base clássica, que destaca o processo manual, mas fortemente influenciada por ideias e conceitos de vanguarda, explora, sobretudo, linhas geométricas e elementos orgânicos, propondo formas simples que a usuária pode, muitas vezes, recriar, reinterpretar e/ou personalizar. O foco das suas criações, que começa por estar no ‘eu’, procura assim implicar ativamente o ‘outro’, salientando o conceito relacional que estabelece os limites entre o corpo habitável e a própria jóia. Servem-lhe de inspiração tanto os elementos exteriores que a rodeiam, quanto o insignificante, o nulo e o intangível. Pode ser uma textura, um movimento, ou simplesmente uma ideia… Observação, pesquisa e experimentação são, por isso, rotinas indispensáveis do seu trabalho, num trajecto que transita entre joalharia e design, tradição e modernidade.
\ Espaço Oficina
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